segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Diz -me do que falas

Cruzando o Tejo, percorrendo a ponte que une as margens deste rio que ali toma o nome de mar, dou por mim a pensar que, igual distancia, mais coisa menos coisa, separa outras margens.

Poucos quilómetros para sul, Africa e Europa, estão ali, quase juntas. Mas na amplitude do quase, reside a dimensão da desgraça.

Aquelas margens, não são para transpor. Pelo menos num sentido, não podem ser transpostas.

O mar, esse sim livre, que tanto afaga uma como a outra margem, engole barcaças e as vidas dos que querem procurar, aqui deste lado, um pouco menos de miséria.

Os deste lado, os que podem cruzar as margens, vão para o outro, como pássaros de rapina empoleirando-se em rochedos, chamando suas a cidades dos outros e construindo muros em terras alheias.

E destes muros ninguém fala. Quase ninguém fala.

São atuais. São de arame farpado, de ferro e de fogo. E por causa deles todos os dias morrem PESSOAS.

Por aqui gostam de falar de outros muros…

E não os choca saber que a uns, se barra o caminho com muros, e a outros, os cobrem de mordomias, tendo por base que estes últimos, têm chorudas contas bancárias e os outros, as contas que têm, são do número de dias em que não conseguem dar de comer aos filhos.

E tantos são os que, por aqui, que só falam desses outros muros passados, vão ao domingo rezar e ajoelhar.

E nem nas preces incluem os outros. Os que morrem diariamente por causa de muros que existem, no presente.

Há dias, vimos imagens heroicas de uma criança a salvar uma irmã, fugindo sob fogo cerrado.

Algures na Síria. Os bárbaros, os que disparavam sobre as crianças – eram – obviamente – soldados de Hassan.

Ontem, o realizador do filme, disse que o mesmo foi rodado, algures por aqui, nesta europazinha de bons costumes. As crianças e os soldados de Hassan eram atores.

Duas dúvidas, pouco consistentes, me assaltam: a primeira, consiste em procurar saber o n.º da sequela – quantos filmes destes ou semelhantes foram já produzidos?

A segunda, em procurar saber quantas vezes vão ser transmitidas, as declarações – honestas – do realizador do filme?

Estas não têm «valor informativo» dirão os patrões dos «órgãos de comunicação social» que se deveriam mais apropriadamente designar por «boletins de propaganda do capital».

Na pátria lusa foram apanhados uns senhores que vendiam direitos de aqui residir a uns senhores endinheirados.

Esses direitos, foram instituídos por iniciativa de um homem muito crente, um daqueles homens, que reza e ajoelha.

Os homens que os vendiam, também rezam e ajoelham.

Para fazer poeira. Voluntariamente se disponibiliza um ministro.

E pronto. Tudo bons rapazes.

Ato louvável, o do ministro.

Na missa de domingo será apresentado como exemplo.

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